terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A Era do Rádio.


A ERA DO RÁDIO
     O rádio foi a grande novidade da primeira metade do século XX no Brasil. Por ele, passaram notícias do país e do mundo, músicas, novelas, fofocas, anúncios, seriados, entre tantos outros programas que chegaram e começaram a fazer parte da vida dos brasileiros.

As Músicas e os Cantores

     O rádio tinha espaço para todos os tipos de música, do erudito ao popular. Tangos eram muito apreciados, bem como as marchinhas na época do Carnaval, entre outros ritmos.
Cantar ao vivo acompanhando uma orquestra não era simples, exigia muito talento.
     Uma voz afinada e potente somada à sorte e a uma boa dose de carisma podiam dar ao cantor uma carreira de sucesso no rádio. Muitos foram os nomes que brilharam nesse meio; dentre eles, Carmem Miranda, Hebe Camargo, Cauby Peixoto, Emilinha Borba, Marlene, Nelson Gonçalves, Ari Barroso, Vicente Celestino, Araci de Almeida, Orlando Silva, Ataulfo Alves, Francisco Alves, Lúcio Alves, Luiz Gonzaga...

Os programas de auditório
     Um dos programas de auditório mais populares e de maior audiência nas décadas de 40 e 50 foi o Programa César de Alencar. Criado em 1945 e veiculado pela Rádio Nacional, ele reunia uma platéia de 600 pessoas num auditório onde era possível cantar, bater palmas e também os pés. O programa fez muito sucesso por abrir espaço ao público, deixando-o interagir com os artistas. Seu lema era: “Programa César de Alencar: esse programa pertence a vocês!”

Programas humorísticos
     Os programas humorísticos de auditório e predominaram no rádio desde a década de 30. Com uma carga semanal que variava entre seis e doze horas, eram grandes líderes de 
audiência e, por causa disso, muito procurados pelos anunciantes. Chico Anysio, Chacrinha, Ronald Golias e Manoel da Nóbrega foram humoristas que passaram pela rádio e,
posteriormente, já famosos, migraram para a televisão.
     Entre os muitos programas que tiveram sucesso nessa categoria, o que marcou a década de 40 foi o “Balança... mas não cai”, veiculado pela Rádio Nacional. O programa era exibido duas vezes por semana e alcançava seu auge no quadro “Primo rico primo pobre”, escrito e interpretado por Paulo Gracindo. O quadro fez tanto sucesso que, mais tarde, foi reproduzido na televisão.

Ginástica
     Você já pensou em ter aulas de ginástica pelo rádio? Seria no mínimo interessante, não?
Durante algumas décadas, na programação diária de algumas rádios brasileiras, existia um
horário dedicado a aulas de ginástica, geralmente no período da manhã, em que eram
apresentados programas como o Comece bem o dia, transmitido pela Rádio Sociedade Mayrink
Veiga, desde 1933.

Década de 20 — o surgimento das emissoras de rádio no
Brasil
A primeira transmissão — 1922
     Foi no dia sete de setembro de 1922, durante a Exposição Internacional no Rio de Janeiro, em comemoração ao centenário da Independência do Brasil, que ocorreu a primeira emissão
radiofônica oficial no país. Quem a realizou com um discurso foi o então presidente Epitácio Pessoa.
     Para as pessoas que visitavam a exposição, foi uma surpresa ouvir as palavras do presidente
transmitidas através de alto-falantes — estrategicamente posicionados e escondidos do público até aquele momento. A primeira transmissão radiofônica, mesmo surpreendendo, não entusiasmou muito os ouvintes cariocas, que mal se davam conta de que esse novo meio de comunicação, em um futuro próximo, atingiria em cheio sua vida e seu coração, bem como de vários brasileiros.

A primeira emissora — 1923
     O rádio, seu mecanismo, sua tecnologia e seu poder de transmissão conquistaram muitas pessoas. Uma delas foi Roquette-Pinto*, que, no dia 20 de abril de 1923, alguns meses depois da Exposição Internacional, fundou a primeira emissora brasileira: a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Essa rádio também foi pioneira em sua temática, sendo a primeira rádio educativa brasileira.
     No início, a programação da Rádio Sociedade variava entre músicas eruditas (da própria coleção de Roquette-Pinto) e aulas-conferência. Mais tarde acabou cedendo ao gosto popular
e apresentando cantores e compositores de sucesso da época, programas infantis, entre outras atrações.
     A rádio era mantida pela mensalidade de seus sócios-ouvintes, não aceitando comerciais ou
propaganda política em sua programação. Com o passar do tempo, no entanto, ela passou a
enfrentar grandes dificuldades; para não ser extinta, acabou sendo doada para o Ministério da Educação, passando a se chamar Rádio Ministério da Educação a partir do dia sete de setembro de 1936.
*Edgar Roquette-Pinto foi o pioneiro do rádio no Brasil. Antropólogo,
etnólogo e escritor, ele foi também o defensor da necessidade de
transmitir educação e cultura a todas as regiões do país. Ele via o rádio
como seu melhor aliado nessa tarefa. É considerado o “pai do Rádio” no
Brasil._

Década de 30 – a consolidação do rádio no Brasil Surgem novas emissoras de rádio no país
     No início dos anos 30, havia 29 emissoras de rádio no Brasil. Uma delas, a PRB 9 ou Rádio Record de São Paulo, foi fundada em 1931, conquistando aos poucos seu público e
fixando-se como uma das grandes rádios nacionais. Na década de 30, ao mesmo tempo em que as emissoras de rádio se multiplicavam no Brasil, sua audiência também
crescia, motivada principalmente pelo barateamento dos aparelhos radiofônicos.

O primeiro jingle – 1932
     Na década de 30, a rádio brasileira passou a ser comercial. Em 1932, foi ao ar o primeiro jingle*.
A música foi composta pelo compositor e cartunista Antônio Nassará, que criou um fado, que
mostrava ao público os serviços de uma padaria do Rio de Janeiro:
“Seu padeiro não esqueça, tenha sempre na lembrança: o melhor pão é o da Padaria Bragança”.
     Foi nesse ano, por meio do Decreto-Lei 21.111, que a rádio recebeu autorização especial para a veiculação de anúncios. Com a renda vinda dessa nova fonte, as principais emissoras da época — Mayrink Veiga, Phillips-RJ, Record-SP e Cruzeiro do Sul–SP — passaram a pagar cachê aos artistas que participavam de seus programas.

A Rádio Escola Municipal do Distrito Federal
     Estudar pelo rádio era um sonho de Roquette-Pinto, que acabou sendo concretizado de forma interessante com a criação da Rádio Escola Municipal do Distrito Federal em 1933.
     A rádio, coordenada por Anísio Teixeira, não ficou satisfeita em somente transmitir informações aos seus ouvintes, sem deles receber uma resposta. Para melhorar a relação ouvinte-escola, foi criado um novo método: antes das aulas, a emissora enviava pelo correio folhetos e esquemas de lições a todos aqueles que estavam inscritos no programa. Esses, por sua vez, enviavam à rádio trabalhos relacionados com o assunto das aulas, mantendo contato através do correio, telefone ou mesmo pessoalmente. O público gostou tanto do novo método que, após um ano de transmissão, a rádio já havia recebido 10.800 trabalhos de seus alunos. Depois do pioneirismo do Distrito Federal, muitos projetos semelhantes foram executados no país.

A Rádio Tupi – RJ – 1935
     Em 1935, foi fundada, no Rio de Janeiro, a Rádio Tupi. Essa grande rádio brasileira foi também a precursora da televisão nacional, que surgiu na década de 50.

1936 – Surge a Rádio Nacional do Rio de Janeiro
     Às 21 horas do dia 12 de setembro de 1936, marcando a história da rádio brasileira, surgiu a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, ao som de “Luar do Sertão”, com o anúncio:
“Alô! Alô! Brasil! Aqui fala a Rádio Nacional do Rio de
Janeiro!”
     A emissora foi comprada da Rádio Philips por cinqüenta contos de réis e, aos poucos, tornou-se a maior rádio brasileira. De dois pequenos estúdios, em 1936, a emissora chegou a seis estúdios em 1956. Nessa data, possuía um estúdio especial para o Rádio Teatro — o maior da América do Sul; um estúdio para o Rádio Jornalismo — único na América do Sul; um Rádio Estúdio; um auditório para 496 lugares e dois pequenos estúdios para pequenos conjuntos. Não era imponente apenas na estrutura; possuía também uma grande equipe de trabalho.
     A Rádio Nacional foi a primeira emissora do Brasil a organizar uma redação própria para noticiários,
com a rotina de um grande jornal. Chegou, inclusive, a ter uma orquestra de excelente qualidade, além de bons instrumentistas, cantores, jornalistas, humoristas e equipe técnica.
Em março de 1940, ocorreu a estatização da Rádio Nacional, por Getúlio Vargas. Com o apoio do governo e uma grande receita publicitária, a rádio tornou-se insuperável pelas emissoras concorrentes.

1938 – Primeira transmissão esportiva
     Em 1938 ocorreu a primeira transmissão esportiva via rádio, em rede nacional. Era a Copa do Mundo, que foi transmitida pela Rádio Clube do Rio de Janeiro.

Década de 40 — A época de ouro do rádio
1941 — Um marco para as novelas e para o radiojornalismo
“Em busca da felicidade”
     Em 5 de junho de 1941, estreou na Rádio Nacional um programa que, por mais de dois anos,
deixou muitos brasileiros “vidrados” no rádio: a novela Em Busca da Felicidade.
Apresentada pelo creme dental Colgate, foi a primeira história radiofônica autêntica. Para se
ter uma idéia do sucesso conquistado por essa nova atração, basta citar que o elenco
participante ficou durante muito tempo praticamente impedido de transitar nas ruas, devido ao rebuliço provocado por sua aparição. O ator que interpretava o vilão — odiado pelo público —
certa vez teve de se esconder numa loja para fugir de um grupo de pessoas que o reconheceu.
Outro ator, que fazia o papel de médico, recebeu nos estúdios da Rádio Nacional uma senhora que foi até lá especialmente para lhe pedir uma consulta.
     Quando pensamos no sucesso dessa novela, um outro exemplo vem à mente: a campanha da Colgate, que prometia, a quem enviasse um rótulo do creme dental Colgate, um prêmio
composto por fotografias dos artistas da rádio-novela Em Busca da Felicidade, além de um
álbum com o resumo de toda a história. No primeiro mês, contrariando as expectativas, a
empresa recebeu 48 mil rótulos. Como as perspectivas de crescimento dos pedidos eram
geométricos, a promoção foi cancelada.
     Depois dessa novela, as portas da rádio se abriram, e centenas de outros programas do gênero passaram a fazer parte do cotidiano dos ouvintes brasileiros.

Repórter Esso
     Em 1941, em plena Segunda Guerra Mundial, surgiu um programa jornalístico que se tornou
líder de audiência: o Repórter Esso*. Transmitido pela Rádio Nacional (RJ) e pela Rádio
Record (SP), o novo programa trazia notícias rápidas e recentes sobre os últimos
acontecimentos da guerra, redigidas pela United Press Internacional e traduzidos para o
português.
     Os lemas do Repórter Esso eram: “o primeiro a dar as últimas” e “testemunha ocular da
história”. O programa durava cinco minutos, privilegiava as notícias internacionais e era
transmitido em outras rádios, além da Rádio Nacional. Ele fez tanto sucesso que permaneceu
no ar durante 27 anos e, mais tarde, tornou-se uma atração televisiva.
* O programa levava esse nome por ser patrocinado pela companhia norte-americana de
combustíveis, Esso.

1950 – O jornalismo ganha mais espaço
     A Rádio Nacional possuía a Seção de Jornais Falados e Reportagens. Foi a primeira no Brasil a ter uma equipe de jornalismo, composta por um chefe, quatro redatores e um colaborador de notícia parlamentar. Devido a isso, seus noticiários tinham grande audiência. Mas tudo mudou em 1950, quando a emissora perdeu sua exclusividade para a Rádio Tupi (SP e RJ), que passou a exibir programas informativos com significativa audiência.
     O jornalismo da Rádio Continental do Rio de Janeiro também começou a concorrer com o da
Rádio Nacional e com o Repórter Esso. Chamada de “A voz do povo” inovou no jornalismo,
sendo a primeira emissora brasileira em reportagens externas. Além disso, o jornalismo da
Rádio Continental dava mais destaque às notícias locais, diferentemente do Repórter Esso, que priorizava as notícias internacionais.

Rádio X TV
     O ano de 1951 marcou o primeiro e decisivo golpe na rádio brasileira: a inauguração da TV
Tupi, a primeira emissora de televisão brasileira. Inicialmente, o aparelho de televisão não era acessível para a grande maioria dos brasileiros.
     Aos poucos, no entanto, ele foi se popularizando. Apesar de a Rádio Nacional continuar sendo muito ouvida, na metade da década de 50 uma pequena queda nos índices de audiência foi registrada, assim acontecendo com as demais rádios do país...
     Unindo o som à imagem, a televisão roubou o espaço até então ocupado pelo rádio. Além
disso, trouxe para a sua programação vários dos produtores, cantores, comediantes, artistas e programas — como o Repórter Esso — que antes pertenciam às emissoras de rádio.
     O rádio continuou existindo, mas jamais voltou a ser o “rei” da casa, reunindo as famílias em
torno de si para ouvir notícias, chorar, sorrir e se emocionar com as novelas, se divertirem com os programas de auditório, cantar e dançar suas músicas...
Era o fim da “era do rádio”... e o começo do reinado da televisão...

Fonte: textos retirados do site: www.educacional.com.br

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